COISAS SIMPLES

Nos versos de alguns poetas

Que fazem odes á morte

Parece-me covardia,

Porque temos que ser fortes.

Perdidos em suas dores,

Esqueceram de viver

As coisas simples do mundo,

E o gosto do bem querer.

Na faço odes á morte

Nem aos que por culpa ou sorte

Não têm onde morar.

Quero cantar a alegria,

Da ave bela e vadia

Que no céu vive a voar.

Meu canto é alvissareiro.

É pena de travesseiro

Pra a cabeça descansar.

É renda de almofada,

E a roupa bem passada

De vestir pra passear.

É a chuva no telhado,

É o meu gato malhado,

No colo a ronronar.

É sorvete de casquinha,

É rosa pequenininha,

É o mel para adoçar

É água da cachoeira

O perfume na banheira

A música preferida.

Não faço odes á morte,

Mesmo que a ninguém importe

Eu sou poeta da vida

Sou poeta da beleza

De castiçal sobre a mesa,

Pra cristais iluminar.

Das gotinhas de brilhantes

Que saltam a todo instante

Das ondas do verde mar.